Vulnerabilidade social, saúde mental, educação e solidariedade no Brasil, em tempos da COVID-19
Reflexões bioéticas
DOI:
https://doi.org/10.14422/rib.i21.y2023.001Palavras-chave:
saúde mental, educação, bioética, solidariedade, COVID-19, vulnerabilidade socialResumo
A crise sanitária mundial, provocada pela COVID-19, afetou a qualidade de vida da população brasileira, causando danos a sua saúde mental. Tal contexto traz para o debate bioético a urgência de implementar políticas públicas que amparem os excluídos sociais. Este estudo tem como escopo a reflexão sobre fenômenos que impactam na saúde mental dos brasileiros, como desigualdade social, marginalização, exclusão e extrema pobreza, corroborando com a criação solidária de mecanismos éticos de proteção para os socialmente mais vulneráveis. Foi feita uma revisão integrativa de literatura, alicerçada no artigo 14 da Declaração sobre Bioética, com foco na condição de não liberdade dos “Condenados da terra”. Evidencia-se a necessidade de uma parceria que coadune a luta por um projeto de educação libertadora, que transforme a saúde mental — de modo a assegurar dignidade a todos — com a proposta de construção de uma bioética interventiva, plural e solidária, habilitada a enfrentar as disparidades sociais que fazem com que os “oprimidos” sofram múltiplas privações e diminuem suas chances de desenvolver plenamente suas habilidades, capacidades e potencialidades.
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