A Invisibilidade das Mulheres que Cuidam em Domicílio no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.14422/rib.i29.y2025.007Palavras-chave:
cuidado domiciliar, mulheres cuidadoras, desigualdade de gênero, patriarcadoResumo
Este artigo objetiva discutir a questão de gênero e o fenômeno global sobre a crescente demanda pelo cuidado domiciliar sem remuneração e reconhecimento social, responsabilidade que recai principalmente sobre as mulheres no Brasil. Indaga-se: qual é o tempo que as mulheres dedicam ao cuidado e se fatores como escolaridade, raça, e renda interferem no tempo dedicado a este cuidado? Esta pesquisa adota uma revisão narrativa como abordagem metodológica, fundamentada na análise e interpretação de dados provenientes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os resultados mostram que as mulheres dedicam muitas horas diárias aos cuidados dos outros, em uma posição de subordinação, com papéis sociais distintos e hierarquizados, com responsabilidades domésticas e de cuidado, limitando sua participação no mercado de trabalho e perpetuando a desigualdade. A discussão teórica é realizada em perspectiva com os autores Birolli (2016), Bourdieu (2012), Buziquia et al (2019), Díaz Cueva (2025), Federici (2019), Gilligan (2003), Zoboli (2003), e os resultados reforçam que a desigualdade de gênero persiste de forma intrínseca em diversas esferas sociais.
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